Um dia, então, cansada dos olhares de aresta dos homens retos que cuspiam nas esquinas, ela resolveu fechar os olhos. Caso bem pensado, como todas as suas ações.
Por mais equilibrada que tentasse parecer seu destempero sempre transparecia, logo o escondia. Não aceitava a superioridade inferior daqueles homens.
No outro dia, encheu seu estômago de carne: pedaços de morte que a ajudariam a enfrentar a nova realidade. Também comeu catchup e todo o tipo de embutido quimicamente tratado e testado na dor. Estava vagarosamente decidida a acabar com os olhares fulminantes sobre ela.
Esgoelou o cachorro, já que não tinha um gato que fizesse o trabalho. Quebrou todos os cd’s e ensurdeceu ao som das músicas caipiras do irmão.
Saiu a rua, cheia do vazio que tinha em casa e, em sua cegueira negra, não encontrou ninguém que lhe contasse uma mentira branca ou uma piada suja.
Disposta a chegar ao sol mergulhando no abismo, olhou para uma árvore que passava. Dela caiu uma folha suicida que, envolvida pelo vento, juntou-se a tantas outras que cobriam o chão. Viu em seu olhar aquela aresta, não de maldade, de contemplação...
Voltou pra casa, chorou pela morte da comida e pela dor ingerida. A folha sorriu enquanto ela decidia viver.
Num outro dia, já de primavera, enquanto caminhava uma flor despencou sobre seu ombro. Dessa vez, morreu...
...De susto.
Um comentário:
ouuuuuuum!!! X))))))
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