[[ Aos amigos, à saudade ]]

Para Aline e Kathy

Eu sinto saudade daquele tempo em que nos sentávamos embolados no sofá da faculdade para matar uma aula importante e absurdamente chata. O nosso riso corria solto pelo restaurante classe média que frequentávamos depois da aula ou nos sábados aleatórios. Era tão bom quando, no silêncio estratégico, algum de nós soltava um verbete sexual; a garçonete fazia cara de "deus do céu!" e nós, por horas, gargalhavamos como loucos. Fazíamos comentários sobre filmes, músicas, as pérolas dos professores, catávamos as garçonetes para fazer graça. Eu sinto saudade daquela época porque éramos uma equipe. Nós contávamos as moedinhas na hora de pagar a conta, sem vergonha alguma, e o que tinha mais, ajudava os outros. Nossa pobreza é uma alegria que eu ainda quero ter.
Sabe, quando comíamos doritos sentados na calçada, bebendo vinho barato antes de entrar em uma festa qualquer, grátis? Eu era feliz. E eu viajava para ver televisão numa casa, éramos mordidas pelos mosquitos no quadrado, tomávamos banhos de chuva ou dormiamos todas juntas, em dois colchões atirados pelo chão. Assistíamos filmes até altas horas, eu sempre dormia nas primeiras cenas. Senti saudade do latido das cachorras, finos e doídos nos meu típanos. E a cervejinha com a mãe, sempre muito divertida. Ai...(sorrindo) Lembrei agora daquela noite em que olhamos "atividade paranormal": uma cobriu o rosto o tempo todo, a outra falou o tempo todo e eu só cochilei um pouquinho, para não perder o costume. Na hora de dormir eu tive que ir na frente ligando as luzes e depois voltei para desligar, "eu sou macho!" disse brincando e rindo do medo de vcs. Me deu vontade do chimarrão que tomávamos contando as fofocas ou as muitas latinhas que tombamos enquanto contávamos a semana...
Mas então eu pergunto o que foi que aconteceu? O que fizemos uns com os outros?
Parece que cada um foi mergulhando em alguma coisa que nem toma um tempo absurdo, mas nos acomodando, deixamos que nossa preguiça tomasse a casa, pesasse nossos pés e hoje eu estou aqui cheia de saudade e culpa por ter deixado as nossas relações tomarem essas proporções de tristeza. Se eu pudesse eu corria na casa de duas pessoas agora só para dizer o quanto as amo e sinto dor nesses ultimos dias. Nos poucos segundo em que consegui respirar essa semana, a saudade de vcs me deixou sem ar.

Um abraço demorado.