segunda-feira, 18 de outubro de 2010

[[ Brincando ]]

Ela disse “não” com cara de deboche e riu. Sabendo que aquele N-Ã-O tinha um prazo (bem curto) para mudar de sentido e recebeu um:

- Por que, heim?

- Porque não. Oras!

- Não mesmo?

Antônia disse “Não!” e riu debochadamente. Seu prato predileto era dizer não, mesmo quando calava o "sim" mais sem vergonha por trás daquele sorriso de criança. Ela sabia o porquê de estar ali, isto é, porque dizia um “Sim” bem cretino, como quem usa, brinca, joga e porta armas para provocar até a hora de agir.

- Por que? Me dá um motivo!

- Porque não, não preciso explicar, tu é uma criança besta. Não pode ter tudo o que quer.

- Hunf – suspirou Larissa.

Larissa tinha pouca idade, não sabia nada da vida e nem nada sobre Antônia. Apenas teve provas de que ela não estava querendo algum tipo de extorsão, maldade ou aproveitamentos. Antonia era do tipo centrada, apesar de muito louca durante a noite.

- Poxa! Só um beijo... – choramingava Larissa.

- Não, meu! Pode parar. – ria a outra esparramada sobre a cama com o controle da TV numa mão e o do ar na outra.

Larissa sentia frio e fazia um bico de neném que chora por não ganhar o doce que pediu para a mãe. Antônia se divertia com aquela situação e procurava coisas provocantes interessantes para ler na internet.

- Você comeu?

- Pedi uma torrada aqui no hotel. Por?

- Por nada. Estás com fome? Eu tenho que ir para casa descansar, estou morta e precisando tomar um banho. – falou Antônia com a certeza de que permaneceria naquele quarto do hotel por algumas horas.

- Toma banho ai, tem uma toalha ali, oh! Vamos pedir uma pizza? Você come comigo.

- Ok! – Antônia achou o endereço na internet e ligou, escolheram o sabor. – Pronto, demora meia hora. Vou tomar banho.

Larissa fez um sorriso como quem pensa vou me dar bem o qual Antônia correspondeu com tu vais sofrer mentalmente.

Antônia era uma cretina nata, entrou no banheiro e deixou a porta entre aberta para poder ser ouvida lá de dentro:

- Você tomou banho?

- Sim, mais cedo.

- Ah! Não quer tomar outro?

- Isso é um convite. – silêncio e um sorriso enorme dentro do banheiro, Antônia se divertia com a previsibilidade de Larissa – Meu, você disse isso sério?

- Lógico que não. – respondeu Antônia rindo alto.

- Droga! – Larissa parecia indignada com a situação.

A pizza chegou e criança, como o natural, sempre faz birra. Larissa disse que não estava com fome e não iria comer. Era hora de Antônia:
- Come que eu te dou um beijo! – rindo alto. – Tche, tu nunca come nada, vais ficar doente.

- Ok, uma fatia de pizza por um beijo. – Larissa comeu apressada como aquelas crianças que devoram um prato de feijão correndo para olhar televisão a seguir. – Pronto.

- Tu é uma criança mesmo! – risos de Antônia – Te enganei direitinho!

- Idiota, tu disse que não iria me passar para trás, vou fechar os olhos e dormir.

- Se tu dormir, eu vou embora. – Antonia podia ver sua própria cara de deboche.

- Cretina, tratante! – Larissa cobria a cabeça com aquela cara de dezessete anos “eu acabei de sair das fraldas”

Antônia continuou comendo e ofereceu mais um pedaço àquela criança escondida ao seu lado, sob o cobertor:
- Não quero!

- Se você comer esse, serão dois beijos – ria gostosamente Antônia.

- Não, sua tratante, maldita! – xingava Larissa morrendo de vontade de ser agarrada.

Ok! Já chega de fazer maldade com essa criança, vai – Nenem?

- Não estou, eu vou dormir agora e você vai ficar ai, sozinha e gorda!

- Nenem, vem cá?

Larissa descobriu a cabeça com uma cara irritada:
- Tu é muito cretina, meu. M-U-I-T-O! Me provoca e ainda ri da minha cara! Eu te odeio!

- Eu estou adorando isso – a cada resposta de Antônia aquela cena ficava mais sexy para Larissa. Antônia sorria...

Num segundo, como a dona da situação, Antônia entrou embaixo do cobertor disposta a acabar com a tortura e começar a brincadeira. Um sorriso e um selinho:

- Pronto! – rindo.

- Um selinho? Tu chama isso de beijo? Como tu é engraçada, sabia? – Larissa parecia indignada.

- Não! Um selinho e uma Antônia todinha em cima de você! – o riso indiscretamente irônico de Antônia desencadeou algo quente e os próximos minutos não precisaram de cobertor e nem mesmo ar condicionado foi capaz de provocar algum tipo de friagem. Naquela cama ardia o mais intenso dos fogos dionisíacos.

- O que foi? Você fumou maconha? – brincou Larissa.

- Não preciso de maconha, eu gozo! – riu a outra

- Isso foi louco e você é muito besta. Dorme aqui comigo?

- Não posso, tenho que ir para casa estudar.

- Nos vemos amanhã? É sexta-feira, quero sair contigo. – disse Larissa com olhos pidões.

- Não, eu vou sair com os meus amigos. – disse secamente Antônia recolocando a calça e a blusa.

- Estás falando sério? – Larissa não estava acreditando!

- Sim, eu tenho aula e depois vou sair com os meus amigos. – Antônia falava sério agora enquanto colocava aquele all star de anos. – Tenho que ir agora.

- Espera eu por a roupa, já que não nos veremos amanhã. – Larissa.

- Vem assim! – ria Antônia ao olhar aquela menina magra com peitos inacreditáveis e jeito de quem precisa de muito cuidado. – Vamos? – disse saindo

- Hey! Espera! – Larissa pegou uma camisa qualquer e saiu semi-nua no corredor do segundo andar daquele hotel classe média, por sorte, ninguém transitava por lá.

Um beijo no meio da escada, um sorriso e um “Te cuida, criancinha, nos falamos...” foi tudo o que Antônia disse naquele fim de noite de quinta.

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