Ela disse “não” com cara de deboche e riu. Sabendo que aquele N-Ã-O tinha um prazo (bem curto) para mudar de sentido e recebeu um:
- Por que, heim?
- Porque não. Oras!
- Não mesmo?
Antônia disse “Não!” e riu debochadamente. Seu prato predileto era dizer não, mesmo quando calava o "sim" mais sem vergonha por trás daquele sorriso de criança. Ela sabia o porquê de estar ali, isto é, porque dizia um “Sim” bem cretino, como quem usa, brinca, joga e porta armas para provocar até a hora de agir.
- Por que? Me dá um motivo!
- Porque não, não preciso explicar, tu é uma criança besta. Não pode ter tudo o que quer.
- Hunf – suspirou Larissa.
Larissa tinha pouca idade, não sabia nada da vida e nem nada sobre Antônia. Apenas teve provas de que ela não estava querendo algum tipo de extorsão, maldade ou aproveitamentos. Antonia era do tipo centrada, apesar de muito louca durante a noite.
- Poxa! Só um beijo... – choramingava Larissa.
- Não, meu! Pode parar. – ria a outra esparramada sobre a cama com o controle da TV numa mão e o do ar na outra.
Larissa sentia frio e fazia um bico de neném que chora por não ganhar o doce que pediu para a mãe. Antônia se divertia com aquela situação e procurava coisas provocantes interessantes para ler na internet.
- Você comeu?
- Pedi uma torrada aqui no hotel. Por?
- Por nada. Estás com fome? Eu tenho que ir para casa descansar, estou morta e precisando tomar um banho. – falou Antônia com a certeza de que permaneceria naquele quarto do hotel por algumas horas.
- Toma banho ai, tem uma toalha ali, oh! Vamos pedir uma pizza? Você come comigo.
- Ok! – Antônia achou o endereço na internet e ligou, escolheram o sabor. – Pronto, demora meia hora. Vou tomar banho.
Larissa fez um sorriso como quem pensa vou me dar bem o qual Antônia correspondeu com tu vais sofrer mentalmente.
Antônia era uma cretina nata, entrou no banheiro e deixou a porta entre aberta para poder ser ouvida lá de dentro:
- Você tomou banho?
- Sim, mais cedo.
- Ah! Não quer tomar outro?
- Isso é um convite. – silêncio e um sorriso enorme dentro do banheiro, Antônia se divertia com a previsibilidade de Larissa – Meu, você disse isso sério?
- Lógico que não. – respondeu Antônia rindo alto.
- Droga! – Larissa parecia indignada com a situação.
A pizza chegou e criança, como o natural, sempre faz birra. Larissa disse que não estava com fome e não iria comer. Era hora de Antônia:
- Come que eu te dou um beijo! – rindo alto. – Tche, tu nunca come nada, vais ficar doente.
- Ok, uma fatia de pizza por um beijo. – Larissa comeu apressada como aquelas crianças que devoram um prato de feijão correndo para olhar televisão a seguir. – Pronto.
- Tu é uma criança mesmo! – risos de Antônia – Te enganei direitinho!
- Idiota, tu disse que não iria me passar para trás, vou fechar os olhos e dormir.
- Se tu dormir, eu vou embora. – Antonia podia ver sua própria cara de deboche.
- Cretina, tratante! – Larissa cobria a cabeça com aquela cara de dezessete anos “eu acabei de sair das fraldas”
Antônia continuou comendo e ofereceu mais um pedaço àquela criança escondida ao seu lado, sob o cobertor:
- Não quero!
- Se você comer esse, serão dois beijos – ria gostosamente Antônia.
- Não, sua tratante, maldita! – xingava Larissa morrendo de vontade de ser agarrada.
Ok! Já chega de fazer maldade com essa criança, vai – Nenem?
- Não estou, eu vou dormir agora e você vai ficar ai, sozinha e gorda!
- Nenem, vem cá?
Larissa descobriu a cabeça com uma cara irritada:
- Tu é muito cretina, meu. M-U-I-T-O! Me provoca e ainda ri da minha cara! Eu te odeio!
- Eu estou adorando isso – a cada resposta de Antônia aquela cena ficava mais sexy para Larissa. Antônia sorria...
Num segundo, como a dona da situação, Antônia entrou embaixo do cobertor disposta a acabar com a tortura e começar a brincadeira. Um sorriso e um selinho:
- Pronto! – rindo.
- Um selinho? Tu chama isso de beijo? Como tu é engraçada, sabia? – Larissa parecia indignada.
- Não! Um selinho e uma Antônia todinha em cima de você! – o riso indiscretamente irônico de Antônia desencadeou algo quente e os próximos minutos não precisaram de cobertor e nem mesmo ar condicionado foi capaz de provocar algum tipo de friagem. Naquela cama ardia o mais intenso dos fogos dionisíacos.
- O que foi? Você fumou maconha? – brincou Larissa.
- Não preciso de maconha, eu gozo! – riu a outra
- Isso foi louco e você é muito besta. Dorme aqui comigo?
- Não posso, tenho que ir para casa estudar.
- Nos vemos amanhã? É sexta-feira, quero sair contigo. – disse Larissa com olhos pidões.
- Não, eu vou sair com os meus amigos. – disse secamente Antônia recolocando a calça e a blusa.
- Estás falando sério? – Larissa não estava acreditando!
- Sim, eu tenho aula e depois vou sair com os meus amigos. – Antônia falava sério agora enquanto colocava aquele all star de anos. – Tenho que ir agora.
- Espera eu por a roupa, já que não nos veremos amanhã. – Larissa.
- Vem assim! – ria Antônia ao olhar aquela menina magra com peitos inacreditáveis e jeito de quem precisa de muito cuidado. – Vamos? – disse saindo
- Hey! Espera! – Larissa pegou uma camisa qualquer e saiu semi-nua no corredor do segundo andar daquele hotel classe média, por sorte, ninguém transitava por lá.
Um beijo no meio da escada, um sorriso e um “Te cuida, criancinha, nos falamos...” foi tudo o que Antônia disse naquele fim de noite de quinta.
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