Eu fico pensando "E se tudo não tivesse começado naquele dia?" "E se não houvesse o primeiro beijo, o que seria?"
Como seria eu lá perdido com alguém que eu mal conhecia e reage aleatoriamente como todos nós, afinal, não pensamos 'agora me convém agir desta maneira porque naquele outro dia foi assim que eu agi' Ora, ninguém tem tempo para isso! É uma grande bobagem dizer que pensamos. Somos um bando de cogumelos minha gente! Não notamos quando respiramos e nem pedimos que o nosso coração continue a batendo até acordarmos. Nós não pensamos em nada e nem medimos esporos, eu quis dizer esforços, para sermos o mais alternado tipo de ser desumano. Ou alguém aqui pensa em ser humano? Bobinho!
Amigos, ovelhas de algodão-doce não existe nem nos cinemas. Mais de setenta por cento das pessoas torcem para os vilões. Bando de desumanos, bando de normais, deselegantes...
Esqueçamos disto...
Antes do esperado veio o beijo que deu propulsão a tudo e ao nada. Porque eu sempre brinco que entre o tudo e o nada não existe grande diferença. Pois enquanto o todo é a ausência do nada, o nada revela-se como a ausência do todo. Grande diferença? Um minuto de silêncio para que vocês pense sobre isto...
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Se ao contrário de um beijo houvesse um abraço? Bem, eu me sentiria normal, nada estaria em desalinho. Tudo poderia simplesmente em alguns minutos ser controlado por mim. Confesso: odeio perder o controle e isto quase sempre acontece. Eu também tenho a ignóbil mania de apostar comigo mesmo, sabendo que eu perderei. Vejam só! Tsc...
Voltando ao ponto, um abraço seria o começo despretensioso de uma viagem louca a que me propus e fiz. Seria o primeiro passo para contatos agradáveis, passeios agradáveis e três dias de racionalidade, afastamento do meu mundo. Serviria-me para muitas coisas, entre todas estas, para me tornar mais seguro de tudo o que eu tenho e que me embasa. Mas que papinho fodido, heim?
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Se ela não tivesse aparecido, o que seria de mim? Bem, teria que pagar com o meu dinheiro a antecipação da passagem e com este baita murro na cara ter absoluta certeza da minha condição: uma ovelha de algodão-doce. Explico:
As ovelhas são seres quase que inanimados, nunca comeram ninguém além do pasto que, a olhos vistos, é mais inanimado do que elas pelo simples fato de não andar. Os pastos são gramas e como tais, presas a terra não se movem a não ser em direção ao sol, chamamos isso de crescimento. Se os pastos se movessem, na certa seriam mais vorazes do que as ovelhas.
Associem agora a ovelha ao desejo de toda a criancinha: nuvens de algodão, algodão-doce no parquinho, nos filmes o algodão-doce é um dos muitos clichês de amor, dar algodão doce para a amada é promessa de um 'e foram felizes para sempre' segundos antes de subirem os créditos.
Aqui estou eu, pacato, cortez, ético, uma pessoa que respeita e trata todos - mesmo os desconhecidos - como iguais, como humanos, como pessoas dignas de atenção. 'Ele é tão querido!' 'vejam como é educado?' 'inteligente ele sempre foi, porque não tem namorada?'. Não vejo problemas em ser elogiado e querido por todos, mas tudo começa quando a minha passividade de ovelha vem de encontro a minha doçura de algodão doce. Que associaçãozinha ridícula, pelo amor de dels! Acontece que ao dar atenção, carinho, importância as pessoas, o instinto de possuir faz com que ela montem sobre mim. Vejam, lá estou eu sendo cavalgado por uma gordinha que nem sequer viu uma ovelha duas vezes na vida. Deprimente.
Há uns quatro ou cinco anos atrás eu tinha uma camiseta toda preta escrita em letras brancas 'eu acredito' . Quando perguntado sobre isto eu dizia que acreditava na humanidade, acreditava nas pessoas. Olha que frase mais ovelha? Pois por acreditar eu desembarquei e por sorte ela estava lá e me esperou com um beijo apressado. Só para terminar... eu rasguei a camiseta há um ano atrás, no dia em que eu deixei de ser ovelha. Porque até agora eu venho pensando que eu deixei de sê-la, mas não posso dar total certeza.
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Sim, ao desembarcar ela estava lá e me esperou com um beijo apressado, nervoso e mediante a este eu desmanchei, imaginem aqui um homem com cara ridícula de ovelha indefesa e cor de rosa, o melhor algodão doce para mim é o cor de rosa, não sei se vocês concordam.
Derreti. Como isso aconteceu? Sigam imaginando: Eu uma ovelha de algodão-doce que armara uma barreira de tijolos racionais. A barreira foi derrubada de uma vez só com uma passionalidade monstra. Deus... eu fui tomado por uma coisa sem limites, sem distinção entre certo e errado e passei a fazer da minha realidade uma fantasia que só existiu na minha cabeça. Sim, foi uma neurose, disso eu tenho certeza! Um desejo constante, um querer sem fim, um abandonar: amigos, família, valores. T.U.D.O. Estava pronta a merda!
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Me vi no N.A.D.A. Como faz? Foi um romance tal e qual a trajetória do avião que partiu numa manhã para outro aeroporto: subiu, atingiu o auge da pressão atmosférica, para não dizer da loucura e um dia aterrissou. Aterrissou para ela que desceu dos meus braços para braços mil, dois mil... isso não me importa, saco!
Para mim, deste outro lado, o avião não aterrissou. Eu vivi o acidente do airbus da TAM. Fiquei em estilhaços, migalhas, pó. Eu amargurei todo o aço retorcido e o fedor de fumaça, a desordem. Chamas de incompreensão ganharam o céu que eu não vi durante dias. Então vieram bombeiros, muita água para apagar o ardor dos escombros e a pele daquela ovelha. O açúcar derreteu com o fogo e eu matei a ovelha para renascer nem sei o que: as vezes vivo intensamente, as vezes breco descompassado. Nunca mais voei, nunca mais tive uma noite de loucura tórrida regada a vinho e chocolate. Busquei todas as paixões nos livros por ser incapaz de encontrá-la nas pernas de uma mulher. Aquele beijo que um dia eu disse ser tudo me deixou um único herdeiro: o nada que eu raramente penso em preencher.
2 comentários:
*palmas* Ser uma ovelha é um problema, agora ter uma camiseta escrito "eu acredito na humanidade" é ser o cu da ovelha em noite de festa na rocinha. Mas vejo que a saída não se transformar em algo antagônico à idéia de ovelha, mas, sim, algo extra-ovelha-e-aovelha, algo que voe estes dois conceitos de viver. Venho tentando descobrir onde está isso. Só sei que é penoso e solitário.
Adorei o texto Cogumela, qué dize, cumpadi.
Só pra variar...Adorei!! ;P
Abraços!
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