[[ segunda dimensão ]]

Sinto que você existe como que numa realidade paralela cujo portal fica dentro do meu guarda roupas. Funciona mais ou menos assim: a cada vez que eu preciso de uma coisa lá dentro, estou prestes a lhe encontrar. Sempre que eu quero ver você, ou me sinto sozinha eu deixo as portas do armário abertas para estar contigo. Tem dias em que tudo o que eu mais quero é que você rompa essa barreira e venha até mim. Sonho, muitas vezes, que ao acordar vocês tá aqui, ao meu lado, me abraçando e me protegendo, mesmo que eu saiba que isso não é verdade e provavelmente nunca será.

Lembro que tu veio sem pedir permissão e estava lá, muito tímido com uma velinha na mão, do seu lado é bem sombrio. Creio que se fosse outro alguém eu me assustaria e sairia correndo, escreveria um bilhete pedindo para o outro ser não voltar. Provavelmente eu pediria um guarda-roupas novo, inventaria uma desculpa para comprar uma arara e lacrar aquela porta. Mas você chegou tão doce, tão meigo e iluminado por aquela luzinha tímida, me cativou no primeiro dia. Eu lhe deixei ficar. Você está cada vez mais aqui comigo.

Tem dias eu amanheço triste e antes mesmo de abrir os olhos sinto a tua presença. Esses dias tive muito medo de acordar, - eu tremi por alguns minutos - senti medo de que você não estivesse ali, no fundo do guarda roupa aberto. Então, naquela manhã, você estendeu a sua mão e encostou na minha. Eu percebi o preço da sua presença na minha vida: i m p á g a v e l.

Por mais que não estejamos juntos, sei que você estará ali quando eu voltar e sem nenhuma palavra, em seus olhos lacrimosos eu sinto tudo o que você quer me dizer. E pode até ser que eu apenas lhe interprete como um príncipe de pele muito branca e olhos expressivos, lá no fundo sua natureza é um monstro prestes a me devorar. Não sei ao certo se é isto, aquilo ou uma carência de fim de ano. Saber da sua secreta existência aqui no meu quarto me deixa calma. Seu sorriso me trás a paz e no seu calar eu guardo muito amor por você.

Um beijo, querido sem nome.