Na contra-mão do que me mostravam, quando fui ao Rio, me vi embaixo de um sol vermelho e escaldante. Noite e dia, no forte do verão essa estrela incandescente queima desrespeitosa tudo e a todos que habitam aquele lugar. Mesmo quando não está ela deixa a sua marca de calor e vapor impiedoso.
Infindas foram as minhas noites em claro, a mercê da pressão baixa e falta de atividade. "Já amanhece e lá vem o sol, massacrar minha pele rebocada por um 'fator 30' insuficiente".
O centro do Rio é esplendoroso e claro, como mostra a televisão. O "em torno" da cidade maravilhosa é vermelho vivo. O caroço de um abacate chamado Rio de Janeiro é muito rígido, como todos os caroços. Prédios, limpeza, saneamento, belas praias e mulheres alaranjadas pelo sol escaldante ou por uma câmara de bronzeamento artificial, músculos enrijecidos em academia, tempo livre para ir a praia. Mas este mesmo abacate possui a polpa, a parte que nos lambuza, no sentido agradável da expressão. A parte que buscamos quando rompemos a casca, ou seja, aparte vermelha do Rio está por todo o lado e tem cor de tijolo a vista; é aquela parte que sobe os morros e que muitas vezes a água lava e leva como papel. Mesmo assim, é um vermelho vibrante. O "em torno" é cheio de carne, ossos e malemolência é espaço em que o carioca PRECISA ser malandro. A periferia do Rio de Janeiro é lugar de pandorga, de samba no botequim, peixe fritinho na hora. É espaço de sorriso no rosto quando amanhece, mesmo que a noite tenha sido rasgada por todo o tipo de violência. A polpa do Rio está no gingado da mulata descalça na ruela, no choro da cuíca e na moça que urina no arco da Lapa. O vermelho "fla & flu", que infla o orgulho carioca vem dos tijolos de um barracão festejante nas noites de quarta-feira “olha o carnaval ai, gente!”. O cartão postal do Rio de Janeiro deveria ser o "em torno do asfalto" que só é mostrado em momentos de pedra e tiroteio.
Para quem pensa que o Rio é Copacabana, saiba que as flores não nascem no asfalto. O Rio de Janeiro é o que “simplesmente as rosas exalam.” como diria Cartola.
Um comentário:
olá, "cogumela"!
adoramos a sua presença no saboratório e ficamos imensamente felizes em saber que agradamos os filósofos dos quatro cantos do brasil!
vamos colocar as receitas dos coraçães lá no blog do saboratório, aí a gente te avisa ;D
beijo enorme!
vamos continuar fazendo de tudo para despoluir o lado de dentro e o lado de fora dos seres humanos :D
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